quarta-feira, dezembro 27, 2006

Estou de volta

Sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro
Percorrer correndo, corredores em silêncio
Perder as paredes aparentes do edifício
Penetrar no labirinto
Um labirinto de labirintos dentro do apartamento
Sim, eu poderia procurar por dentro a casa
Cruzar uma por uma as sete portas, as sete moradas
Na sala receber o beijo frio em minha boca
Beijo de uma deusa morta
Deus morto, fêmea língua gelada, língua gelada como nada
Sim, eu poderia em cada quarto rever a mobília
Em cada um matar um membro da família
Até que a plenitude e a morte coincidissem um dia
O que aconteceria de qualquer jeito
Mas eu prefiro abrir as janelas
Pra que entrem todos os insetos


Quanto o telefone tocou e ouvi a voz do meu ex-marido dizendo que tinha uma má noticia, pensei comigo mesmo algo aconteceu ao Felipe; e sinto vergonha do alívio que senti ao ouvir que não era o caso.
Ainda estou triste mas sei que meu pai não gostaria de ver assim, já o imagino na sua calma a dizer:
_É a vida minha filha, Deus sabe o que faz...
Fui trabalhar no dia seguinte para não precisar ficar em casa pensando e no mesmo tempo que meu pai estava sendo enterrado eu estava tomando conta de outros idosos no asilo e quem sabe com isto mandando flores para o céu.
O pior de tudo é a distancia, aniversários, nascimentos e mortes passam por mim sem que eu possa fazer parte, mas é o preço que tenho de pagar por morar na Europa.
Deus levou meu pai, mas deu-me amigos novos para ajudar a suportar a perda, sou grata a todos vocês.
Beijos e Feliz 2007 para todos meus novos e velhos amigos e claro para os que estão a vir.